As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios do século XXI. A ciência é clara: limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C é essencial para evitar impactos irreversíveis. Para isso, precisamos reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) pela metade até 2030 e atingir a neutralidade de carbono até 2050. Apesar de avanços promissores, os esforços ainda não acompanham o ritmo necessário. No entanto, com estratégias bem implementadas, é possível reverter essa trajetória e construir um futuro sustentável.

Onde Estamos e o Que Precisa Ser Feito?

mudanças climáticas - painel de metas
Fonte – https://www.wribrasil.org.br/noticias/o-que-mundo-precisa-para-conter-mudancas-climaticas-clima

Um relatório recente analisou 40 indicadores climáticos essenciais, como transição energética, proteção de ecossistemas e descarbonização de indústrias. Nenhum deles está no rumo certo para cumprir as metas de 2030. Embora 27 indicadores estejam progredindo, o ritmo é insuficiente. O que podemos fazer para enfrentar esse desafio?

 

1. Transição para Energia de Carbono Zero

A transição energética é o pilar central na mitigação das mudanças climáticas. Embora a adoção de fontes renováveis como energia solar e eólica tenha crescido substancialmente – com aumentos de 47% e 31%, respectivamente, entre 2019 e 2021, os combustíveis fósseis ainda dominam 80% da matriz energética global. Para limitar o aquecimento a 1,5°C, será necessário multiplicar por seis a taxa de adoção de fontes limpas, ao mesmo tempo em que se elimina gradualmente o uso de carvão e gás natural. Esse avanço exige políticas públicas rigorosas, como subsídios direcionados às energias renováveis, regulamentações que desincentivem o uso de combustíveis fósseis e incentivos ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras, além de uma cooperação internacional mais efetiva.

Mudanças Climáticas - Carbono

2. Construções Sustentáveis e Eficientes

O setor da construção civil é responsável por aproximadamente 39% das emissões globais de Gases de Efeito Estufa (GEE). Para reduzir esse impacto, é imperativo adotar soluções como edifícios de carbono zero, isolamento térmico eficiente e energias renováveis integradas. A renovação de construções existentes, que atualmente ocorre em menos de 1% ao ano, precisa ser ampliada para até 3,5% até 2030. Além disso, as políticas urbanas devem priorizar normas de eficiência energética para novas construções e incentivos fiscais para reformas sustentáveis, alinhando a expansão urbana às metas climáticas globais.

3. Indústrias Menos Poluentes

A indústria pesada, responsável por cerca de 20% das emissões globais de GEE, exige uma revolução tecnológica. Produções como aço e cimento necessitam de transições estruturais, incorporando tecnologias como o hidrogênio verde e a eletrificação de processos industriais. No entanto, atualmente, a intensidade de carbono nesses setores segue em trajetória ascendente. Políticas de incentivo para pesquisa, desenvolvimento e implementação dessas tecnologias, além da precificação de carbono para desestimular processos poluentes, são cruciais para reverter essa tendência e atingir as metas de descarbonização.

Mudanças Climáticas - carbono

4. Transportes Sustentáveis

O setor de transportes, responsável por 15% das emissões globais de GEE, precisa acelerar a adoção de soluções mais limpas. Embora os veículos elétricos já representem quase 9% das vendas globais, essa participação precisa quintuplicar até 2030 para que o setor esteja alinhado às metas climáticas. No transporte de longa distância, combustíveis alternativos, como bioquerosene e eletrificação ferroviária, devem ser priorizados. Paralelamente, a ampliação de transporte público eficiente e infraestrutura cicloviária são medidas que reduzem emissões e tornam as cidades mais habitáveis.

Mudanças Climáticas - automóveis

5. Proteção e Restauração de Ecossistemas

Ecossistemas naturais, como florestas tropicais, manguezais e turfeiras, são reservatórios vitais de carbono. No entanto, desde 2015, a perda de florestas atingiu níveis alarmantes, com desmatamento equivalente ao território do Iraque. A restauração e proteção desses habitats precisam avançar em um ritmo 1,5 vez maior, com foco em práticas de manejo sustentável e reflorestamento em larga escala. O combate ao desmatamento ilegal deve ser uma prioridade global, apoiado por mecanismos financeiros que remunerem a conservação e restauração dos ecossistemas.

Mudanças Climáticas - Desmatamento

6. Sistemas Alimentares Sustentáveis

A agropecuária representa cerca de um terço das emissões globais de GEE. Medidas como aumentar a eficiência produtiva, adotar práticas agrícolas regenerativas e promover mudanças nas dietas, com menor consumo de carne, são essenciais. Além disso, é necessário reduzir o desperdício de alimentos, que atualmente representa cerca de 30% da produção global. Transformar o sistema alimentar requer intervenções em toda a cadeia produtiva, desde subsídios para práticas agrícolas sustentáveis até campanhas para conscientizar consumidores sobre o impacto de suas escolhas alimentares.

7. Tecnologias de Remoção de Carbono

Além da redução de emissões, tecnologias de remoção de carbono, como captura e armazenamento de CO₂ (CCUS) e bioenergia com captura de carbono (BECCS), são indispensáveis. Apesar de ainda estarem em estágio inicial, essas soluções precisam escalar rapidamente para atingir a remoção de bilhões de toneladas de carbono até 2050. Políticas que incentivem pesquisa, desenvolvimento e financiamento dessas tecnologias são urgentes para superar barreiras de custo e viabilidade técnica.

8. Financiamento Climático

O financiamento é o motor que impulsionará a transição climática. Até 2030, será necessário mobilizar US$ 5,2 trilhões anuais em investimentos para energias renováveis, tecnologias de baixo carbono e infraestrutura resiliente. Além disso, a eliminação de subsídios aos combustíveis fósseis e a implementação de mecanismos de precificação de carbono são passos fundamentais para redirecionar fluxos financeiros em favor da sustentabilidade. A colaboração entre setores público e privado será determinante para garantir que os recursos necessários estejam disponíveis e bem aplicados.

Mudanças Climáticas - Financiamento

Um Futuro Promissor é Possível

Embora o cenário atual das mudanças climáticas seja desafiador, os avanços tecnológicos, as transformações em políticas públicas e o crescente engajamento da sociedade civil mostram que a transição para um futuro sustentável é viável. A oportunidade está diante de nós: podemos redesenhar economias inteiras, tornando-as resilientes e inclusivas.

As soluções não se limitam à esfera governamental ou corporativa. Cada indivíduo tem um papel crucial, seja adotando práticas sustentáveis no dia a dia ou pressionando líderes a implementar mudanças estruturais. O sucesso, porém, exige uma abordagem coordenada, na qual setores privados e públicos colaborem para financiar e implementar soluções em escala global.

Ademais, a transição para uma economia de baixo carbono não é apenas uma questão ambiental, mas também uma oportunidade econômica. Investimentos em energia limpa, infraestrutura verde e tecnologias de remoção de carbono podem impulsionar a criação de empregos, aumentar a competitividade e fortalecer economias emergentes.

Entretanto, a transformação necessária não será alcançada sem enfrentar interesses estabelecidos que resistem à mudança. Precisamos de governança eficaz para implementar políticas climáticas robustas, como precificação de carbono e eliminação de subsídios a combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que garantimos que as populações mais vulneráveis sejam protegidas.

A luta contra as mudanças climáticas é um teste de nossa capacidade de inovação e cooperação. Não se trata apenas de evitar catástrofes; é uma chance de reimaginar nosso modelo de desenvolvimento, alinhando progresso econômico à preservação ambiental e justiça social. Se agirmos agora, com coragem e compromisso, poderemos não apenas mitigar os impactos climáticos, mas também construir um futuro mais próspero e equilibrado para as próximas gerações.

O momento exige ação, e cada escolha que fazemos hoje molda o mundo que deixaremos para o futuro.

 

Texto inspirado na análise publicada no portal do WRI Brasil – https://www.wribrasil.org.br/noticias/o-que-mundo-precisa-para-conter-mudancas-climaticas-clima