O panorama da sustentabilidade está prestes a mudar. Os efeitos das mudanças climáticas ficaram mais evidentes em 2023, o ano mais quente já registrado, que infelizmente ficou marcado por muitas tragédias como enchentes, incêndios, tempestades e outros fenômenos naturais.
Esse cenário fez com que a atenção às práticas sustentáveis ganhassem uma urgência sem precedentes, que promete ser um divisor de águas sobre políticas globais e alterações regulamentares. O tempo está passando e temos muito o que fazer para evitar crises ambientais de consequências catastróficas
As tendências de sustentabilidade abaixo foram indicadas por especialistas no assunto, em um artigo publicado pela Economist Impact. Vamos conferir quais são.
Divulgação total
A divulgação das informações que envolvem sustentabilidade está no topo da lista de tendências de sustentabilidade.
Neste ano, entraram em vigor novas normas que envolvem esse quesito. As mais importantes são a Diretiva União Europeia, relativa aos relatórios de sustentabilidade das empresas (CSRD – Corporate Sustainability Reporting Directive), a Diretiva da UE relativa à diligência devida em matéria de sustentabilidade das empresas (CSDDD – Corporate Sustainability Due Diligence Directive) e as futuras normas da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC – U.S. Securities and Exchange Commission).
De acordo com Peter Bakker, presidente do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD – World Business Council for Sustainable Development ), as empresas europeias estão sobretudo concentradas na divulgação de informações conforme os requisitos da CSRD.
Uma preocupação apresentada por Peter é que as empresas se apeguem muito ao cumprimento da norma, mas não ao contexto que ele representa. Não quer que as empresas divulguem só por divulgar, mas que utilizem a divulgação na sua estratégia de atuação, promovendo assim mudanças realmente efetivas.
Para ele, é importante que empresas sejam recompensadas pelos progressos realizados e não só pela apresentação de relatórios. É importante que exista um alinhamento entre novas práticas e expectativa do mercado financeiro, para que a transição para um mundo sustentável ocorra na velocidade que o planeta necessita.
Mark Lee, sócio e diretor da ERM, uma empresa de consultoria em sustentabilidade, concorda que é necessário dar mais ênfase à responsabilização e à mudança, em vez de se limitar à apresentação de relatórios.
“Melhoramos muito na transmissão do que estamos fazendo, mas sem mudar muito – as emissões continuam a aumentar, o desmatamento está acelerando”, afirma. Ele prevê que a pressão sobre as empresas passará do fornecimento de dados para a sua entrega.
Para Tom Beagent, sócio da área de sustentabilidade da PwC, os requisitos de divulgação irão forçar uma qualidade de entrega. Como exemplo, cita os planos de transição climática das empresas, que descrevem a forma como uma organização irá alinhar os ativos, as operações e os modelos de negócio com a ciência climática moderna.
Um estudo realizado pelo CDP no ano passado, revelou que, embora muitas empresas tivessem planos de emissões líquidas nulas, apenas 7% tinham uma estratégia condizente para concretizar suas metas.
“Já não é suficiente ter apenas um compromisso de emissões líquidas nulas, é necessário dar confiança de que se sabe como o atingir”, afirma.
A natureza avança
Os relatórios sobre o clima estão mais completos e indicam que mudanças devem ser feitas com urgência. Além de diagnósticos mais completos, tivemos no ano passado grandes amostras de como as mudanças climáticas afetam tudo, inclusive a economia e resultado das empresas.
Esse cenário tem trazido uma maior reflexão sobre o tema e aumentado o debate sobre a natureza na agenda das empresas.
Em setembro do ano passado, a Task Force for Nature-Related Financial Disclosures (TNFD) divulgou as suas recomendações finais para permitir às empresas avaliar, divulgar e gerir os riscos e impactos relacionados com a natureza, de modo a que os dados das empresas sejam comparáveis.
No entanto, apesar de a natureza ser cada vez mais uma prioridade para as equipes de sustentabilidade das empresas, especialmente no período que antecede a COP16 na Colômbia, os especialistas prevêem que muitas empresas ainda terão a pauta como secundária.
Mark Lee acredita que, embora a agenda sobre a divulgação de informações pelas empresas tenha acelerado e sido formalizada nos últimos anos, irá agora estabilizar temporariamente.
Ele dá o exemplo de um cliente que precisa quase duplicar o número de pontos de dados sobre os quais apresenta relatórios em apenas um ano. Além disso, estes têm de ser assegurados de uma forma que não era exigida anteriormente, necessitando envolvimento e aprovação das equipes jurídicas e financeiras.
“As pessoas querem abraçar o trabalho relacionado com a natureza e vêem os seus investimentos na natureza como essenciais para avançar no domínio do clima. Mas a atual onda de regulamentação vai necessariamente colocar uma pausa nas margens voluntárias da divulgação e em outros trabalhos de sustentabilidade”, afirma Lee.
Bakker, do WBCSD, afirma que, embora muitas empresas concordem com a ideia de se tornarem “positivas em relação à natureza”, muitas têm dificuldade em saber o que isso significa na prática. Em 2024, haverá muito trabalho para compreender melhor esta questão, prevê. “Nem todas as empresas têm os mesmos impactos na natureza. Quais são os caminhos para uma natureza positiva? Como é que se mede a materialidade?”, afirma.
Adaptação em alta
Além do ano mais quente da história, tivemos a década mais quente já registrada. O ritmo das alterações climáticas está acelerando a um ritmo alarmante.
Neste contexto, e na sequência de relatórios de cientistas das Nações Unidas indicam que os atuais esforços globais são insuficientes para atingir o objetivo internacional de limitar o aquecimento a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Essa calamidade provavelmente vai obrigar que as empresas intensifiquem os seus esforços de adaptação ao clima. Essa tendência de sustentabilidade promete ser bem acelerada.
“Os primeiros anos de divulgação de informações sobre o clima no âmbito do TCFD e a análise que lhe está subjacente irão destacar os desafios e as ações necessárias. Os impactos climáticos estão surgindo mais rapidamente do que o esperado, pelo que a gestão está mais concentrada no que é necessário fazer para se adaptar”, afirma.
O aumento da resiliência nas cadeias de abastecimento está ganhando destaque à medida que as empresas compreendem melhor como os diferentes cenários de aquecimento afetarão as suas atividades, acrescenta Tom Beagent.
Mark Lee entende que as empresas estão tornando-se muito mais conscientes dos riscos físicos associados às alterações climáticas, especialmente em relação à proteção contra inundações e à manutenção do acesso à água para as cadeias de abastecimento.
“Estamos desenvolvendo um enorme volume de trabalho em matéria de risco físico em toda a nossa base de clientes, parte do qual está sendo possibilitado pelo que podemos ver utilizando dados de satélite e geoespaciais para avaliar antecipadamente o local onde ativos como uma linha de transmissão podem ir. Estamos assistindo um real aumento da procura deste tipo de pré-análise para dar às pessoas maior confiança nos investimentos em infra-estruturas”, afirma.
De acordo com o Beagent, as empresas estão começando 2024 com uma quantidade significativa de trabalho em todas as áreas da sustentabilidade, e muitas terão de desenvolver capacidades e competências para lidar com elas. “Nada disto vai ser fácil, mas estamos falando de alguns desafios bastante significativos que têm de ser ultrapassados. Estamos vendo estas regulamentações serem aprovadas porque não houve ação suficiente”, adverte.
Conclusão
Embora a regulamentação de qualquer prática por parte de governos federais, ou regionais, não seja bem vista pelo mercado ou pelas empresas, a União Europeia viu-se obrigada a regulamentar a divulgação e implementação de práticas sustentáveis, pois está vendo a velocidade com que as mudanças climáticas estão afetando a sua população.
No primeiro momento, esta regulamentação irá trazer transtornos e muita informação será divulgada somente para atender aos requisitos destas normativas, mas ao longo dos anos, nós do Estúdio Letti acreditamos que haverá um impacto positivo, pois as empresas irão, de forma natural, começar a colocar em prática o que estão divulgando e farão melhor do que as normativas federais requerem.
Como a União Europeia e os EUA geralmente estão na vanguarda da sustentabilidade, a tendência é que as regulamentações cheguem ao Brasil nos próximos anos, e a certificação LEED irá colaborar com o atendimento aos requisitos.
Entre em contato conosco para saber mais sobre certificações de sustentabilidade e estar um passo à frente das regulamentações e por dentro das tendências que virão para ficar.